17outubro
Nos últimos contatos e encontros em grupo, para falarmos, sentirmos e pensarmos em corpo na clínica gestáltica, decidi modificar a maneira pela qual a apresentação inicial acontecia. E sigo mudando, em chamamento da criatividade e significado.
Nos meus espaços de trocas, não vejo mais sentido algum nas propostas de apresentações a partir dos títulos e afazeres. Eu quero saber como é que você cuida do seu corpo, como é que você compreende esse corpo no mundo, quero saber um pouco mais das suas marcas, das suas manias, das suas desconexões, dos seus sintomas, das suas aproximações e fugas. Não me interessa onde você estudou, quantas nominações acumulou pelo caminho, se você é ou não sensacional no que faz.
Eu quero saber do seu sentir corpo.
Quero saber se é confortável, se é desconfortável. Se você se aceita sem maquiagens, se você encontra beleza em ti, se você respeita seus poros, seu tamanho, seu volume, seus contornos. Se você é capaz de estar vulnerável.
Quero saber das entregas espontâneas, das potências, das domesticações desse corpo também, do que ele pode e do que ainda não é possível acessar através dele.
Quero saber, verdadeiramente, o que te faz sentir a vida grande por meio do corpo.
Eu sou um corpo que hoje consegue se olhar no espelho. Que consegue mostrar ao mundo o cabelo que é mais longo na frente e mais curto no fundo. E assim, fora do padrão, farejar suas belezas.
É, esta sou eu. Um corpo que ama mergulhar em culturas novas, que ama cachorro, fazendo até voz de neném perto de um. Um corpo que ama experiências gastronômicas, que ama dançar e admirar danças alheias. Um corpo que gosta de estar livre de roupas e apertos, um corpo com pêlos, que tem preguiça de muito, que tem manchas nas pernas, estrias, braços mais colapsados. É. Não consigo sustentar exercícios com braços por muito tempo.
Sou um corpo feito de natureza, arte e poesia. E também feito de partos difíceis, de rompimentos, de ignorâncias, de preconceitos.
Sou um corpo e quero me fazer conhecida a partir desse corpo. Não do que tenho. Não do que faço.
E você? Diz. Quem é você?
"Não tenho ensinamentos a transmitir. Tomo aquele que me ouve pela mão e o levo até a janela. Abro-a e aponto para fora. Não tenho ensinamento algum, mas conduzo um diálogo." | Martin Buber