05julho
Em determinado momento da manhã, senti de colocar minha atenção e tempo no corpo. Promover soltura, esticar, estabelecer um encontro cadenciado e presente. Em tempo próprio, criando lonjuras necessárias do que tem acontecido, ao redor e dentro, e que se apresenta de modo opaco, acelerado ou excessivo.
A cada movimento corporal uma sensação de abertura, como uma janela que se abre para o vento entrar. Um vento que explora o ambiente, circula, afeta. Quando estico o corpo, entendo que ali crio espaço para entradas e saídas de energia, de hormônios, de algo novo, de algo velho.
A cada movimento corporal uma sensação de autorrespeito, visto que percebo limites e potências, com acolhimento. Aceitando o até-aqui, aceitando o mais-além. Sem forçar, sem desejar um corpo outro, sem minimizar meu fazer, sem objetivo diferente do abandono ao chão.
O corpo no chão pode ensinar – pensei.
Pode falar sobre entrega, sobre sustento, sobre recinto. Território do (re)sinto. Um real acesso aos baús do efêmero e das transições: experimentar o chão, saber que o incômodo passa, redescobrir partes, erguer, virar, notar, relaxar. Um corpo ao chão acontecendo, apenas.
O que comparece?
A importância de me parir essa artesã de movimentos conscientes. Comparece uma compreensão de que, assim como um-corpo-movente-no-chão, a vida também dá sustento, pede entrega, é recinto. E, de nós, muitas e muitas vezes, será solicitada uma abertura ali, um espaço para nascimentos e despedidas aqui, um olhar de si para si que se ausenta da autodepreciação e dos desamores.
Como um-corpo-movente-no-chão, podemos promover solturas, lonjuras e cadências. Por mais difícil que seja estar corpo, estar movente, estar no chão.
"Não tenho ensinamentos a transmitir. Tomo aquele que me ouve pela mão e o levo até a janela. Abro-a e aponto para fora. Não tenho ensinamento algum, mas conduzo um diálogo." | Martin Buber