01novembro
“Eu me solto. Por quantas décadas insisti em me prender?”
Encontrei essa pergunta em Barry Stevens. Desde então, ecoa. Sonhei com alguém querendo cortar as minhas expressões espontâneas e eu verbalizava com força e decisão: “não me poda, não”.
A dança é meu espaço de criação e cultivo do espontâneo. Lugar onde não pretendo permitir que me aprisionem em noções de belo. A dança não precisa fazer sentido para os outros. Precisa fazer sentido para mim. Para o corpo dançante. É suficiente.
A dança pode ser uma asa que nos leva feito vento, do jeito que o corpo quer. Pode ser remédio potente para a desconexão consigo, com o outro, com o mundo. Pode ser remédio para a ansiedade, para uma tristeza que estabelece morada longa no peito, para as vergonhas, as inibições. Pode ser resposta às vozes e aos juízes internalizados, que definem o que é feio, os movimentos proibidos, as cascas e moldes aprisionantes. Quando é improvisada, espontânea e ausente dos “tem que”, pode ser uma chave poderosa de liberação.
É possível dançar espontaneamente, mesmo que venha um senso de ridículo, de desajuste, de bobagem? É possível deixar o corpo solto de regras?
Chamar seu corpo pra dançar pode ser via para um choro necessário acontecer, para dizer não a quem quer te colocar em um pote apertado, para amar-se com toda a falta de jeito, com toda a beleza da sua espontaneidade.
Encontre tempo para dançar e veja o que aparece. Um convite para simplesmente deixar-se ser, em dança.
"Não tenho ensinamentos a transmitir. Tomo aquele que me ouve pela mão e o levo até a janela. Abro-a e aponto para fora. Não tenho ensinamento algum, mas conduzo um diálogo." | Martin Buber