16janeiro
É o que tem escrito numa plaquinha que encomendei para a porta do meu consultório. Me planejei financeiramente, pensei em cada detalhe, comprei almofadas, quadros e alguns objetos de decoração. O plano era alugar minha primeira sala em janeiro de 2021. Mas a pandemia não passava e eu recuei.
Nos últimos anos, fiquei com almofadas, quadros, plaquinha e outros objetos de decoração, em caixas e cantos da casa, sem previsão exata de saída e sem ter mais certeza sobre se ocupavam o mesmo sentido e tamanho no desejo.
Tenho aprendido a importância de soltar, de ir junto com a vida que passa, de deixar algumas correntezas serem correntezas, levando para caminhos outros, caminhos novos, caminhos inesperados.
Em alguns momentos, nos restará sentar na margem do rio e observar o que acontece, deixando acontecer o que acontece. Ficar ali, junto, perto, sentindo.
A vida pode ser imperiosa em seus rumos e quando é assim, a gente só vai. Às vezes, vai ser preciso arriar as armas, cessar-fogo, sentar e ver o que tiver para ser visto. Às vezes será necessário apenas respirar junto com o que acontece. Encontrar uma base, no corpo, no chão, numa mão, e respirar junto com o que acontece. Apenas.
Sem pressa, aguardo. Talvez a plaquinha não sirva mais. Algumas almofadas encontraram outro destino. Talvez eu ainda queira o planejado. Talvez não.
Incertezas, incertezas. Aiai. E é da vida.
"Não tenho ensinamentos a transmitir. Tomo aquele que me ouve pela mão e o levo até a janela. Abro-a e aponto para fora. Não tenho ensinamento algum, mas conduzo um diálogo." | Martin Buber