31janeiro
Encontrei essa pergunta no livro A Coragem de Ser Imperfeito, da Brené Brown. A autora relata a experiência da filha diante de uma prova de natação, em que não se sentia à altura das meninas que participariam. Em sua imaginação, não venceria e nem, ao menos, sairia da piscina no mesmo tempo que as outras. Com isso, ela sentia ser mais seguro desistir.
Quem nunca experimentou, em algum momento da vida, a vontade de sair correndo de uma possibilidade mínima de erro, de inadequação e de fracasso?
Cada vez mais, tenho pensado sobre isso.
Vivemos em uma cultura do acerto, do “ter que” se adequar e vencer. E ao não se encaixar: “olha… a culpa é sua”.
Nesse sistema é preciso caminhar em linha reta, porque nela é possível enxergar o mais adiante, reduzindo a probabilidade dos acidentes de percurso e dos desvios.
Eu já andei em linha reta, e posso dizer que não havia coração batendo forte ali.
As coisas começam a mudar, quando aprendemos a incluir esses erros, essas ditas inadequações e esses fracassos, em nós. E incluir é aceitar que existem, principalmente quando estão por perto.
Talvez um erro abra uma passagem. Talvez a inadequação fale mais sobre o sistema padronizado. Talvez o fracasso nos forneça ferramentas. Talvez sejam convites contínuos para acolhermos nossa humanidade e nos aproximarmos do que é valoroso para nós.
É um baita divisor de águas esse entendimento, assim como a transgressão da linha reta e esperada. Desabituar-se da linha reta e esperada. Construir suas linhas e formas. Porque nas curvas e nos desvios podemos encontrar pulsação e sentido, mesmo que representem o desconhecido que assusta.
É isso: e se a meta não for vencer, como disse Brené Brown? E se a meta não for se adequar ou acertar?
E se a meta for simplesmente comparecer aos desejos e se molhar, experimentar, sentir? A mesma autora traz outra pergunta tocante: o que vale a pena fazer, mesmo que eu fracasse?
Meu coração bate mais forte quando estou perto de mover algo importante pra mim. Sim, a vulnerabilidade se apresenta, mas a vontade de entrar na piscina é transbordante.
"Não tenho ensinamentos a transmitir. Tomo aquele que me ouve pela mão e o levo até a janela. Abro-a e aponto para fora. Não tenho ensinamento algum, mas conduzo um diálogo." | Martin Buber