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14março

Des-cobrir-se

O descobrimento de si abarca distância e separação.

No processo de desenvolvimento pegamos emprestado os olhos de outros, os pés de outros, muitas vezes os braços também, aprendemos ‘modos de’. E isso nos possibilita a importante compreensão do que é mundo, do que é vida, do que é ser humano.

Com o passar do tempo, entretanto, podemos esquecer de devolver o que nos foi apresentado e que não cabe no nosso tamanho. Nesse esquecimento tem distração de si, tem ausência de (re)conhecimento do próprio ser, tem habitação em cápsulas: encapsuladas(os) no que não nos pertence.

E dessa forma entendemos de automatismo, de padrão de movimentos, de não saber-se. De só repetir. Acabei de lembrar, inclusive, de uma música do Pink Floyd que diz mais ou menos assim: apenas mais um tijolo no muro. Um muro que demarca espaços e sentires que não falam sobre nós.

O bailarino Klauss Vianna conta: “eu não tinha corpo; vivia o corpo dos outros. Os gestos do meu pai, da minha mãe, o jeito de andar, de pisar, o movimento das mãos.” Viver o que é do outro impossibilita romper as cápsulas que apertam, que não nos cabem, que limitam a manifestação do ‘quem sou’.

Quais são as possibilidades?

A gente pega o que é sustentável e o que nos dá volume, preenchimento, o que nos dá coluna para movimentos autênticos. A gente devolve o que traz dormência ou conflito com os ritmos internos, o que nos coloca inconsistentes com a vida que desejamos.

Fácil não é. É aquele falado processo. É sobre aprender qual é o seu tamanho, a sua temperatura, a sua substância. Continuo com Klauss Vianna: “não decore passos, aprenda um caminho”. Um caminho mais seu, mais dançante, mais embebido de sentido e com a profundidade que intenciona.

O descobrimento de si abarca distância e separação, para estar junto sem desaparecer. É como povoar um território recém-descoberto, cheio de pulsação e verdade.

[compartilha com alguém que deseja ou precisa fazer devoluções]

Imagem: eu, tocando um chão que gosto.

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"Não tenho ensinamentos a transmitir. Tomo aquele que me ouve pela mão e o levo até a janela. Abro-a e aponto para fora. Não tenho ensinamento algum, mas conduzo um diálogo." | Martin Buber