17outubro
Às vezes fico daqui pensando quais podem ser as fantasias em torno da ideia do trabalho corporal gestáltico na clínica. Fico pensando nisso, quando me buscam para atendimentos com esse propósito mais corporal, de acessar significados e produções através das narrativas do corpo. Penso também, se existem altas expectativas ou fantasias, quando me proponho a falar sobre a prática entre colegas.
Há um tempo, vi alguns stories no Instagram de uma psicóloga chamada Ediane Ribeiro, que aborda o trabalho com traumas com bastante responsabilidade e propriedade. Em um dos stories, ela dizia: “muitas pessoas esperam um show pirotécnico do meu primeiro atendimento”.
Vou pegar emprestado esse termo pra dizer que também não há “show pirotécnico” no trabalho corporal em Gestalt-Terapia. Não haverá “show pirotécnico” nos meus atendimentos. Há encontro.
A partir de quem chega, do que traz, do que sente, do que acontece a cada momento, é que são trilhados caminhos, em companhia, enquanto sugestões e formas de acesso a uma novidade.
E, olha… às vezes é muito simples. Às vezes é muito difícil. Às vezes é um deixar a pessoa recepcionar e acompanhar o que acontece nela, e “só”. Às vezes é calar. Às vezes é dizer o que chega no meu corpo. Às vezes é incluir movimentos, respirações, pele e andanças, com um motivo claro, a partir das observações ou da necessidade de um Sistema Nervoso que comunica extremos. Às vezes, é deixar o sintoma acontecer, a angústia, a ansiedade, o luto e silenciar, sem urgências de retirar o indivíduo daquilo, porque nosso papel de terapeuta definitivamente não é salvar.
Não há manual e nem “shows pirotécnicos”.
Sabe a frase de Ediane Ribeiro? Ela complementa brilhantemente: “o mais difícil é sermos simples – sofisticadamente simples”. Me parece que esse é um dos maiores aprendizados quando estamos em clínica.
"Não tenho ensinamentos a transmitir. Tomo aquele que me ouve pela mão e o levo até a janela. Abro-a e aponto para fora. Não tenho ensinamento algum, mas conduzo um diálogo." | Martin Buber