09agosto
Em março de 2022, dei minha primeira aula em uma instituição de ensino e pela primeira vez também escutei uma pessoa me chamar de professora.
Estranho? Bom? Confortável? Desconfortável?
Vou te contar uma história. Há alguns anos, participei de um evento de Gestalt-Terapia, em que seria facilitadora de um workshop junto com uma colega. Era o momento de receber os crachás diferenciando quem seria participante e quem seria palestrante, e eu entrava nessa última categoria.
Mas, olha só. Me inscrevi como palestrante, meu nome estava na lista de palestrantes e eu recebi o crachá de participante, aparentemente por engano. Só que aquele aparente engano colou feio com toda uma história de me sentir inferior e subestimada em alguns contextos de ensino/aprendizagem. Só sei que, sentimento fantasioso ou não, ele estava presente em mim.
A colega querida, em provocação necessária e já com seu crachá de palestrante, me dizia: “Mulher, vai trocar. Você vai ser palestrante.”
Mas eu estava sentindo vergonha e vontade de sair correndo dali. Eu estava alimentando uma parte minha que falava assim: “quem você pensa que é pra se dizer palestrante? até erraram seu crachá.”
Me senti tão pequena para levantar e solicitar aquela mudança…
Mas no último minuto, aquele crachá deixou de ser só um papel com um nome, para ser um convite a ocupar um espaço, a me apropriar do meu tamanho real, a entender que eu merecia sim estar ali.
Ontem, quando escutei a palavra professora, eu aceitei diferente. A trajetória passou diante de mim, com total consciência do que sei e do que não sei, respeitando cada uma dessas rotas.
Caramba, eu digo sim com emoção a alguns nomes, hoje. Porque existe uma história por trás daquele nome.
E lógico que minhas partes cruéis introjetadas ainda existem aqui. Ontem, elas quiseram chegar antes da aula, e eu cantei pra elas, eu dancei com Elza Soares no chuveiro, eu cheirei lavanda, chamei meus pés, e fui.
Fui ocupar o lugar para o qual fui convidada, da forma que consegui. Com desejo e vulnerabilidade.
Quero que você também reconheça que merece o que chega de bom aí, e que ocupe com todo seu volume e tamanho os lugares valorosos pra ti.
"Não tenho ensinamentos a transmitir. Tomo aquele que me ouve pela mão e o levo até a janela. Abro-a e aponto para fora. Não tenho ensinamento algum, mas conduzo um diálogo." | Martin Buber