29maio
Às vezes, na minha terapia, converso sobre a morte. Essa mesma, que nos atravessa de tantas e muitas formas, deixando algo, tirando algo, recolocando algo, falando de dor, de amor, de impermanência, de vulnerabilidade, do efêmero.
Já por alguns anos, faço contato com a ideia da morte na humanidade, em mim, em nós, e te digo, reverencio cada vez mais minha possibilidade de estar aqui, de reconhecer quando a vida pede mais vida, de por vezes, sentir a urgência de romper com alguns lugares apertados onde já estive, e outros onde ainda estou.
Descobri na morte uma condição agridoce. Dói profundamente, arranca certezas, desarruma planos e, ao mesmo tempo, traz notícias de que não dá pra se deixar pra depois, de que não dá pra viver uma meia vida desejada por outra pessoa, sem verdade, sem você na própria existência, sem que haja um corpo vibrante imerso no que escolhe criar, buscar, experimentar.
Em alguns momentos, quando a morte me assusta, uma grande ansiedade transpassa, revisita, incomoda músculos, sono e respiração. Em outros momentos, ufa, o escapismo me serve um bom chá e reaviva os meus recursos mais potentes: a beleza, a natureza, a dança, o encanto, os encontros. Resguardo assim, a vida em mim.
Quais são tuas formas? O que faz teu olho querer ser olho? O que enche tua escuta de vontade? Você tem conseguido criar os seus lugares e tempos sagrados inegociáveis?
Se direcionar, de modo fixado e unicamente para o ameaçador, os terrores e as mortes de uma vida, é destrutivo e adoecedor, sem dúvidas. É não ter descanso dos rasgos. É só sentir rachadura dentro.
Falo sobre rememorar ou recuperar aqueles espaços de rendição, fôlego, colos e maravilhamento. Ufa!
"Não tenho ensinamentos a transmitir. Tomo aquele que me ouve pela mão e o levo até a janela. Abro-a e aponto para fora. Não tenho ensinamento algum, mas conduzo um diálogo." | Martin Buber