06outubro
A massagem é uma das mais preciosas formas que tenho encontrado de resgatar o meu corpo sensível. Fico por pouco mais de uma hora comigo, com o chá de camomila, com os sons do ambiente, com a minha respiração e o sentir da mão de uma outra pessoa, que a depender de qual massagem seja escolhida, encontrará seus ritmos e movimentos firmes ou suaves, identificando as necessidades em cada pedaço de músculo, momento a momento.
E ali ficamos, em completo silêncio, como se algo muitíssimo sagrado estivesse acontecendo. E para mim, está. Para mim, retirar os adereços, a roupagem, as preocupações, o celular, o contato com o mundo lá fora, para introverter a atenção e apenas sentir, recordando que sou corpo sensível, é ato sagrado em meio às tantas turbulências existenciais e contemporâneas.
É uma forma de me dar carinho, de me conectar com o corpo vivo que sou e com um modo de fluxo ou energia renovada. É como se as minhas águas de dentro paradas, que acumulam passado ou futuro, encontrassem a corrente presente e não houvesse mais nada a ser feito, a não ser celebrar o que vai acontecendo.
Nem sempre consigo estar naquele ambiente azul e sereno. Mas não perco o dengo. Me dou amor também com as minhas mãos, e de vez em quando, eu toco cada parte da pele que me forma. E recomendo. Autotoque é retorno, é borda, é possibilidade de construir gentileza em si e para si.
Se der, algum dia desses, se presenteia com uma massagem com profissional ou espaço de confiança, que te tragam senso de segurança. Ou peça a sua pessoa querida para simplesmente alisar aquela parte do corpo que você mais gosta de sentir o toque de uma mão. Ou ainda, e não menos importante, crie um ambiente com cheiros, sons, óleos, iluminação-colo, e produza cuidado com as próprias mãos, se tocando como se fosse a primeiríssima vez.
O toque pode ser altamente destrutivo, inscrevendo marcas inapagáveis em nós, é verdade. Mas também pode ser profundamente transformador, enquanto fonte de corregulação, passagem das amorosidades, construção de branduras e brisas no corpo, em costura de sentires mais leves em um mundo que não para pra gente descer.
Retorna a sua pele. Dê repouso a um músculo.
"Não tenho ensinamentos a transmitir. Tomo aquele que me ouve pela mão e o levo até a janela. Abro-a e aponto para fora. Não tenho ensinamento algum, mas conduzo um diálogo." | Martin Buber